Nesta entrevista, secretário admitiu o desejo de ser presidente da Câmara de Salvador
O secretário Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer de Salvador, Kiki Bispo, afirma que a capital baiana deve ter, atualmente, mais de 200 mil pessoas na faixa de extrema pobreza. Nesse bate-papo exclusivo, ele admitiu o desejo de ser presidente da Câmara de Salvador, defendeu o nome de ACM Neto ao governo baiano e disse que “o PT está muito desgastado” e que “as pessoas clamam por renovação”. Confira:
Salvador teve muita adesão ao programa Auxílio Brasil. Que panorama você faz desse programa federal e que impacto ele tem sobre a população de Salvador?
É um programa federal que é fundamental, desde a época do Bolsa Família e, agora, com o Auxílio Brasil. A prefeitura, entendendo a situação do momento atual, não evitou esforços para fazer o cadastramento das pessoas, para atualizar os cadastros… Isso acabou repercutindo no número de beneficiários, que saiu, em dezembro, de 185 mil para 220 mil pessoas, ou seja, um acréscimo de 35 mil pessoas beneficiárias no programa Auxílio Brasil. Isso tem uma repercussão na área econômica, e, sobretudo, na qualidade de vida das pessoas. Até mesmo porque, diante da crise econômica, da pandemia, é a única renda de diversas famílias aqui da cidade de Salvador.
O aumento dos beneficiados expõe um problema grave que é a extrema pobreza no país. Com a pandemia, o cenário ficou ainda mais complexo. De que forma a prefeitura tem atuado para minimizar o impacto sobre a população menos favorecida?
Desde o início da pandemia, a prefeitura tem feito esforço muito grande para fortalecer o nosso sistema da assistência social. Tem sido assim nos restaurantes populares, onde nós aumentamos a nossa oferta de alimentos. Tem sido assim nas unidades de acolhimento para a população em situação de rua. Saímos de 13 para 17. Temos hoje 1.100 vagas disponíveis nos nossos hotéis sociais. Tem sido assim no fortalecimento do CRAS. Só no ano passado inauguramos mais 4 CRAS, isso com vistas a fortalecer, até porque o CRAS é a porta de entrada para essas pessoas em estado de vulnerabilidade. Então é todo um esforço que a prefeitura faz entendendo o momento, dialogando com as entidades, com as organizações da sociedade civil, fazendo uma mega entrega de cestas básicas, tentando mitigar os efeitos dessa crise social que é nacional.
Existem muitos programas sendo tocados pela Sempre hoje. Qual demanda mais e qual tem mais relevância social na sua avaliação?
O Salvador Por Todos foi um programa extremamente importante, até mesmo por conta da não realização das festas populares, do carnaval, isso trouxe um impacto muito grande em diversas categorias. O Salvador Por Todos veio para dar benefícios e auxílios para essas categorias de trabalhadores autônomos que foram impactados de forma direta. A entrega de cestas básicas também foi incluída no Salvador Por Todos. Nós demos o auxílio moradia, que é um auxílio para aquelas pessoas que estão em estado de vulnerabilidade, que não têm um lar, que a prefeitura paga 300 reais por pessoa, por família. Nós temos mais de 4 mil beneficiários que hoje recebem esse auxílio. Nós temos o auxílio funeral, caixão, translado e flores para aquelas famílias que não têm condições de pagar. Nós temos o auxílio viagem, que é aquele benefício para pessoas que vêm em busca de uma nova oportunidade em Salvador, do interior, até mesmo de outros estados, e que por situações diversas e frustrações diversas acabam tendo que retornar às suas cidades de origem. Então, portanto, Salvador disponibiliza a passagem de volta. É uma gama de serviços. Auxílio natalidade para aquelas mães gestantes que não têm condições de comprar um kit enxoval, disponibilizar aqueles itens necessários para o pré-natal e também depois, quando o filho nasce. É uma série de benefícios importantes para essas pessoas mais vulneráveis, e cresceu com a pandemia. Salvador hoje deve ter mais de 200 mil pessoas na faixa de extrema pobreza. Isso realmente faz com que a prefeitura acenda o alerta e faça as políticas de assistência social com muito mais eficácia visando chegar nessas pessoas para evitar os efeitos sociais que são visíveis.
Qual o orçamento que a prefeitura disponibiliza para as causas sociais na cidade? Quanto se gasta por ano?
Desde o início da gestão do prefeito ACM Neto, o orçamento estava sempre em torno de R$30 milhões. Hoje nós temos um orçamento de mais de 200 milhões. A gente saiu daquela retórica de que a política de assistência social é uma falácia para, de fato, investir, fazer investimentos massivos, haja vista esses benefícios que eu te falei, esses auxílios que eu te falei. Todos eles são custeados com recursos dos municípios. Isso demonstra que a política de assistência social é prioridade na gestão do atual prefeito Bruno Reis e do ex-prefeito ACM Neto.
O restaurante popular passou a ser a única alternativa para muitas pessoas que passaram a ter essa como a principal refeição do dia. A prefeitura investe o necessário para evitar a fome hoje em Salvador, secretário?
Quem hoje precisa e está em situação de vulnerabilidade, que não tem um lar, que não tem um alimento diário, a prefeitura de Salvador tem equipamentos que ela consegue dar respostas imediatas. Se você procurar um CRAS hoje, você é atendido, você faz uma entrevista, e aquela família já recebe automaticamente uma cesta básica, assim foi o entendimento das nossas técnicas. Aquela pessoa também que precisa de alimentação, ela tem dois restaurantes populares de forma estratégica em duas regiões populosas da cidade, em São Tomé de Paripe e em Pau da Lima. Nós aumentamos a nossa oferta de 700 unidades para 1.000 unidades. Nós estamos em via de finalizar um projeto para criar mais duas unidades móveis, tudo isso para chegar mais perto daquelas localidades das pessoas que, de fato, são atingidas pela pobreza. Então a prefeitura tem investido, ela entende o momento, o prefeito tem falado que se tem duas áreas nessa pandemia que não faltou investimento foram a saúde e a área social.
Vocês têm um trabalho de acolhimento a pessoas em situação de rua. Funciona, de fato, ou é um público difícil de ser lidado no dia a dia?
É um público realmente especial. A nossa equipe de abordagem é uma equipe extremamente capacitada. É preciso ter uma calma, uma técnica apurada para poder convencer essa população, não é fácil. Mas a gente tem percebido que os problemas do ano passado, por exemplo… Fizemos quase 5 mil acolhimentos. Então isso demonstra que nós temos conseguido alcançar nosso objetivo. É claro que às vezes você tem um público de pessoas que são dependentes químicos, e esse ano será um ano que nós vamos fortalecer a nossa política sobre drogas. Nós temos aquelas pessoas que são resistentes, que são filhos da rua, e que resistem, lutam muito contra sair das ruas. E aquelas pessoas que são atingidas por alguma questão econômica, alguma questão familiar e acabam indo para as ruas, e a gente acaba dando a oportunidade, seja através das nossas unidades de acolhimento, ou seja mesmo através dos nossos benefícios, através do auxílio moradia.
Muito se fala sobre a requalificação de CREAS, de CRAS. Qual a importância desses centros e que trabalho é feito diretamente para atender à população menos favorecida?
Os CRAS e os CREAS são unidades, são equipamentos importantes que a cidade tem. Nós temos 28 CRAS e 27 CREAS, são equipamentos que são a porta de entrada para o serviço da assistência social. Portanto a gente precisa cada vez mais requalificar, dar uma estruturação melhor, fazer com que as pessoas vulneráveis enxerguem ali uma segunda casa sua, aquelas que não têm, que as pessoas possam entender que ali tem uma série de benefícios sociais para que elas possam ser beneficiadas, os auxílios, os benefícios. Então a nossa meta é popularizar as ações do CRAS, fazendo com que os efeitos da pandemia sejam mitigados e a política de assistência social tenha muito mais dinamismo nas suas respostas.
Outro problema que destampou há pouco tempo foi a questão das crianças que tiveram microcefalia ou doenças congênitas causadas pelo Zika vírus. De que forma essa demanda tem sido atendida também pelo município?
Nós temos um atendimento especial para mães com filhos com microcefalia. Nós implantamos ali na região do Iguatemi um centro dia, é um centro especializado voltado a atender não só as crianças com microcefalia, mas também as mães. A gente sabe que o perfil dessas mães são mães que tiveram que abdicar dos seus trabalhos e são, muitas vezes, deixadas pelos maridos, e que se dedicam praticamente exclusivamente à criação dos seus filhos. Então o centro dia visa fortalecer esse vínculo familiar importante para que a gente possa promover o bem estar para a criança e para as mães. A nossa meta esse ano é que possamos criar uma segunda unidade do centro dia, dessa vez no Jardim das Margaridas, já que nessa região, nesse bairro, existe uma série de mães que residem nessa localidade e que a gente, portanto, vai dar mais uma oportunidade a essas mães que são realmente extremamente guerreiras e lutadoras nas suas causas e o amor que move os filhos. Impressionante como elas se dedicam exclusivamente aos seus filhos, e a prefeitura fica muito orgulhosa com esse equipamento tão importante.
A Sempre também cuida da área de esporte e lazer da cidade. Isso tem sido levado como prioridade também pelo município? O que é destaque na área?
Tivemos o efeito da pandemia que, de fato, restringiu ou proibiu as atividades esportivas. Voltamos aí no ano passado com a flexibilização a partir de julho, agosto. E a nossa meta é que nesse ano, tão logo a pandemia permita, é que Salvador possa ser referência nas competições nacionais e internacionais. Nós temos equipamentos de ponta, como a piscina olímpica, nós temos três ginásios, em Itapuã, CEU de Valéria e em São Marcos. Nós iniciamos uma série de campos de grama sintética, sobretudo nos bairros periféricos da cidade, tudo isso para dar mais comodidade. Reformamos mais de 500 campos e quadras na cidade de Salvador, e vamos seguir dialogando. Essa é a meta principal da Sempre, dialogando com as diversas instituições e federações, porque Salvador se tornou uma capital com diversos modais esportivos, e a gente precisa estar antenado, porque Salvador hoje é do ciclismo, é do futevôlei, é do beach tennis, é do basquete… Então a gente precisa construir junto com essas entidades, com um maior investimento nesses esportes que são fundamentais para todos nós.
Vamos falar um pouco de política… Volta e meia a gente ouve falar sobre a disputa na Câmara. Seu nome está colocado realmente? Como pretende construir esse processo e como você avalia o cenário atual?
Eu não escondo de ninguém que eu tenho vontade de ser presidente da Câmara de Salvador. Mas também entendo que isso é uma construção, uma conjectura. O presidente Geraldo Júnior faz um grande trabalho, é um líder natural do processo. O prefeito Bruno Reis, chefe do Executivo, também. Então são diversos fatores. Eu acho que ainda está cedo, eu estou ainda muito envolvido nas questões sociais, isso tem me demandado um tempo muito grande, eu tenho me realizado muito como ser humano. Poder, através das políticas de assistências sociais, melhorar, amenizar o sofrimento das pessoas, sobretudo nesse momento. Penso que no momento adequado a gente vai voltar para a Câmara, a Câmara está no meu coração. Eu cresci politicamente lá, tudo que eu sei hoje eu devo à Câmara. Claro que no momento certo nós vamos sentar e dialogar. E, sobretudo, conseguir falar com os vereadores. A Câmara é colegiada, portanto, a gente vai passo a passo construindo esse caminho.
Que avaliação você faz da sucessão estadual esse ano na Bahia? Imprevisível?
Eu acho que teremos uma eleição muito disputada. Eu costumo dizer que eleição tem que se fazer com os pés no chão. Nós temos, de fato, um candidato extremamente competitivo, que é ACM Neto. Um prefeito que transformou a cidade de Salvador, eleito o melhor prefeito do país por oito anos. Isso, de alguma forma, chega no interior. A sigla do PT está muito desgastada, eu acredito nesse desgaste. As pessoas naturalmente clamam por renovação. E a proposta que nós vamos fazer para a Bahia eu acho que contempla e vai contemplar mais os baianos. Eu acredito muito nisso. Você percebe uma migração até das pessoas do lado de lá para o lado de cá. Essa vai ser uma tendência da eleição desse ano. E aí nós vamos para a luta. Vamos falar com cada baiano, com cada baiana, falar das nossas propostas, fazer uma campanha limpa, mostrar o tanto que Neto pode ser importante como governador da Bahia, assim como ele foi prefeito da cidade de Salvador, da capital.
Muito se fala sobre a dependência do cenário nacional sobre o local. Que peso a eleição presidencial vai ter sobre a eleição para o governo? O eleitor vai saber distinguir os processos?
Eu acho que é muito relativo. Esse processo anteriormente tinha muito mais presença, hoje muito menos. A eleição de 2018, por exemplo, você percebeu isso. Você teve mudanças do cenário de todo o Brasil. Gente que era de um lado e acabou no outro. Eu acho que o que vai prevalecer esse ano, eu acredito, é a vontade do eleitor. O lulismo já não tem a mesma força de antes, tem sim um desgaste natural do PT, quer queira ou quer não, é o partido que ele representa. Eu acho que a gente vai construir o caminho. Eu penso que nós vamos reeditar a mesma questão de 2012, quando o prefeito ACM Neto foi candidato a prefeito naquela oportunidade, com Dilma presidente, com Lula no auge, com o governo da Bahia aqui do PT. No entanto, o que prevaleceu foi a vontade do povo soteropolitano. Portanto eu tenho fé e convicção de que isso deve acontecer nessa eleição. Porque às vezes é natural, algumas pessoas falam que vão votar em Lula e em Neto. As pessoas querem ter a livre escolha, não mais aquele voto amarrado que de cima abaixo como se via anteriormente.