Um olhar pouco aprofundado sobre o turismo da capital baiana pode dar a impressão de que só quem busca praias e festas desembarca na cidade. Mas é o turismo de negócios que mantém o equilíbrio do setor ao longo do ano. Congressos voltaram a movimentar Salvador após as restrições sanitárias e só o Centro de Convenções (CCS), localizado na Boca do Rio, deve ser responsável por uma movimentação de R$ 1 bilhão neste ano. Na mesma linha, a taxa de ocupação de hotéis durante a baixa estação na capital já é maior do que a registrada antes da pandemia.
Se o turista de lazer, que costuma visitar a cidade na alta estação, gasta em média R$ 227 por dia, quem vem a Salvador para eventos de negócios tem um ticket médio cerca de três vezes maior, chegando a R$ 681. Muitas vezes com cartão corporativo em mãos, essas pessoas se hospedam e se alimentam em locais caros e podem até prolongar a viagem para curtir a capital baiana.
“Esse é um setor importante porque é com esses negócios que a gente enfrenta a baixa estação. Desde 2016 não tínhamos o Centro de Convenções e precisamos ter bons equipamentos porque Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará são concorrentes”, afirma Sílvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Fehba).
Em 2016, parte do antigo Centro de Convenções da Bahia (CCB) desabou e teve como consequência o enfraquecimento do estado enquanto destino para o turismo de negócios. Lacuna que só foi reparada com a inauguração do Centro de Convenções Salvador (CCS), administrado pela GL Events, em janeiro de 2020. Somente neste ano, o local abrigou 56 eventos, como o XXIV Congresso Brasileiro de Magistrados e o 13º Congresso Brasileiro do Algodão.
Entre janeiro e setembro de 2022, o CCS recebeu mais de 125 mil pessoas e mais 30 eventos vão acontecer até o final do ano. O diretor-geral do CCS, Ludovic Moullin diz que a expectativa é que o público cresça gradualmente: “Metade de nosso faturamento vem dos congressos e Salvador é um destino forte para isso porque tem muito a oferecer, como rede hoteleira, boa gastronomia e lazer”.
Nesta quarta-feira (5), chega ao fim o Brasil Cake Show, um dos maiores eventos de Confeitaria Artística do país. Em três dias, cerca de 6 mil pessoas passaram pelo local. Pedro Saulo, master cake design e um dos organizadores, explica que a cidade tem atrativos que a tornam competitiva para receber eventos de grande proporções. “Salvador tem vantagens turísticas muito fortes, às vezes tem pessoas que estão passeando e frequentam o evento”, diz.
A capacitação de mais de duas mil pessoas que trabalham em serviços ligados ao turismo, além de equipamentos culturais como a Casa do Carnaval da Bahia e a Cidade da Música são provas do investimento da prefeitura no setor, segundo a titular da pasta de Cultura e Turismo (Secult), Andrea Mendonça. “A retomada dos eventos de negócios no Centro de Convenções faz com que Salvador volte a ser inserida no roteiro dos grandes eventos corporativos nacionais e internacionais, com impacto direto na economia da cidade”, explica a secretária.
Ocupação hoteleira
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia (Abih-Ba) apontam que a ocupação hoteleira em maio deste ano, na baixa estação, foi 5% maior do que a registrada no mesmo período em 2019. Enquanto que em 2022 a taxa foi de 54%, antes da pandemia tinha sido de 49%. Para o presidente da associação, Luciano Lopes, esse é um indicativo da retomada do setor.
“Podemos ver como o turismo de negócios vai começando a ajudar a aumentar a taxa de ocupação na cidade porque maio é um mês em que eventos desse tipo costumam ocorrer”, diz. Luciano Lopes também analisa o perfil de quem viaja para comparecerem em congressos.
Apesar da retomada, especialistas ouvidos pela reportagem explicam que eventos de grandes proporções precisam de pelo menos um ano para serem planejados e, como estamos saindo de uma pandemia, o ano que vem deve ser ainda melhor para o setor. “Ainda existem empecilhos, como o custo das passagens e a malha aérea, além da restrição do espaço. Temos o Centro de Convenções, mas ainda é preciso realizar melhorias na rede hoteleira”, afirma Roberto Duran, presidente do Conselho Baiano de Turismo.
Bienal volta acontecer em Salvador após nove anos
Os ingressos para a Bienal do Livro Bahia 2022 já podem ser adquiridos pelo site a partir desta quarta-feira (5). O evento acontecerá entre os dias 10 e 15 de novembro, no Centro de Convenções Salvador, e os ingressos custam entre R$10 e R$20. Durante os dias da Bienal, haverá bilheteria física.
Depois de um hiato de nove anos, a programação da Bienal do Livro Bahia terá mais de 70 horas de conteúdos produzidos pelos mais de 100 autores e personalidades convidados. A expectativa é que 80 mil pessoas circulem pela exposição e o investimento foi de R$5 milhões. Entre 1996 e 2013, quando o evento acontecia a cada dois anos, mais de 2 milhões de pessoas compareceram.