Coordenadora da bancada baiana no Congresso Nacional diz que Bolsonaro está destruindo o país
Deputada, pré-campanha movimentada essa que a gente tem vivido. Desistência de Wagner, Rui fora da chapa, Jerônimo alçado como candidato, chegada de Geraldo Júnior. Que avaliação a senhora faz desse cenário da base governista da Bahia?
Eu acho que demorou um pouco para encaixar todas as mudanças, mas agora que se arrumou o jogo, o time está em campo e está se classificando. Eu acho que a dupla Geraldo e Jerônimo está dando liga, tem uma relação política e de amizade, de solidariedade entre os dois, que está contaminando a campanha e isso é muito bom. Cada um faz um papel, bota um discurso mais nacional. Geraldinho tem aquele jeito dele de animação de campanha, e Jerônimo está atacando e abordando as coisas da Bahia e da estrutura de governo e da política baiana. Então, os PGPs no interior têm sido um grande sucesso.Muitas pessoas foram surpreendidas pelo anúncio do nome de Jerônimo.
O governador errou ao demorar a definir esse nome, já que ele era uma das apostas do PT?
Não. Acho que não demorou. É que a política às vezes demora a engrenar as soluções. Vai se acertando aqui, ninguém pode ignorar o quadro de dificuldade nacional que o país vive. O impacto disso é sobre tudo, todas as campanhas, as formações de chapa, a complexidade do caso da Bahia. Você vê que na Bahia nós tínhamos um arco de alianças grande, mas que envolvia uma parte de deputados que estavam no governo Bolsonaro, outras que não estavam, outras que não estão com Bolsonaro, ou dizem que não estão, mas têm benefícios de Bolsonaro, como o pessoal da União Brasil. Então, havia uma mistura muito grande que era benéfica, positiva, mas que com a polarização do quadro nacional, a tendência era que se buscasse uma rearrumação.
Como a senhora viu a saída de Leão e do PP da base? Wagner errou na condução do processo?
Eu acho que essa história de que Wagner errou é um pretexto para, digamos assim, um afastamento que alguns já defendiam há muito tempo no campo do PP, outros não. Mas que, ao final, serviu… Eu digo um pretexto não contrária a ninguém, eu lamento muito que o PP tenha saído, João Leão, foram anos de convivência e de acúmulo político, e não acho bom nunca que o casamento acabe. Mas tem horas que não tem como sustentar a relação. Então, efetivamente, uma vez terminado, nós temos que tocar a vida para a frente. Tanto eles, quanto nós. Nesse sentido, eu acho que também fizemos da melhor forma possível. Sem maiores ataques, sem maiores agressões, mas compreendendo que agora se está em outro projeto, nós vamos construir o nosso projeto e eles vão tentar construir o deles.
A disputa pelo Senado promete ser bastante disputada, desafiadora, porque é de um turno só… Que panorama a senhora faz da eleição para o Senado da Bahia?
Eu acho que nós vamos ganhar a eleição. A candidatura de Otto está bastante solidificada no eleitorado baiano, e eu creio muito na vitória da nossa chapa inteira. Porque eu acho que as condições, apesar de trazerem dificuldades novas, ao mesmo tempo nós também trazemos boas notícias para o nosso campo. O fato de Lula ter 63% da disposição de votos na Bahia é um elemento muito positivo para nós, para o nosso campo político.
Deputada, a presença do MDB é um ponto de desconforto no grupo, ou não tem nenhum tipo de mal-estar com a presença de Geddel nas discussões sobre a política na Bahia?
A presença do PMDB na chapa é a presença de Geraldinho. Tanto partido hoje nessa história política recente tem dificuldades com esse ou aquele membro. Porém o que importa nesse sentido é o projeto político. Essas pessoas não estão participando da campanha, não é o carro chefe do MDB, cada um teve sua função no passado, teve seu valor no passado, teve seus problemas, o PMDB teve seus problemas, mas agora Geraldinho é o representante do MDB, e um representante não só bem-vindo, mas que tem contribuído muito para a campanha de Jerônimo e para o nosso campo.A educação do estado foi responsabilidade de Jerônimo por três anos e esse é um dos principais alvos de críticas da oposição.
Tem a questão de segurança pública com a morte de policiais, a liderança no desemprego, o que deixa o discurso da oposição afiado, para tentar colar a ideia de que há um desgaste do projeto do PT…
O nosso discurso também está afinado. Não vejo como haver capitalização do projeto educacional de Salvador. Aliás, agora estamos enfrentando uma greve da prefeitura municipal na educação. Enfrentamos recentemente uma greve da guarda municipal. Estamos num processo intenso de mobilização dos funcionários da saúde na prefeitura. Rui Costa é um grande governador, um governador que surpreendeu a Bahia por sua capacidade de gestão, é inegável. E a junção dessa capacidade de gestão de Rui com o legado político de Lula na Bahia dará como resultado o fortalecimento da candidatura de Jerônimo. Eu acredito nisso, já está dando resultado, Jerônimo está contaminando a militância. Todo mundo conhece a história da esquerda em campanha eleitoral, do meio para o fim a esquerda cresce com uma velocidade muito grande. Então, quem está contando vitória antes do tempo não devia fazê-lo. Devia se preparar para um cenário difícil, aguerrido e com possibilidade de derrota para eles.
Como a senhora avalia o Governo Bolsonaro e como vê o crescimento dele nas pesquisas, deputada?
Eu não vejo com surpresa o crescimento de Bolsonaro. Era previsível. Ele tem a máquina em sua mão, uma máquina fortíssima que é a máquina governamental. E nesses dois anos, aliás, desde que se elegeu, não faz outra coisa senão fazer campanha eleitoral. O tempo inteiro. Difícil você ver uma cena de Bolsonaro trabalhando. O mais fácil de cena de Bolsonaro é ele fazendo motociata, tirando férias. Não há uma cena de trabalho de Bolsonaro. Muito difícil isso. No máximo uma cena dele anunciando uma coisa ou outra na República, no Palácio da Alvorada, sempre em volta de temas polêmicos. Porque é com a polêmica de costumes que Bolsonaro alimenta sua base de apoio. Do ponto de vista do projeto econômico, é um desastre. O governo é um desastre. Esse Paulo Guedes é um desastre. Nunca houve um ministro de economia tão poderoso nesse país para determinar as políticas. E só trouxe o desastre à política econômica brasileira. Não adianta esse papo que eles ficam tentando divulgar que o Brasil está saindo da crise mais cedo do que se esperava. Não é verdade. Claro que no contexto de diminuição de ritmo econômico em todo mundo, que nós enfrentamos também aqui no Brasil com a pandemia, quando dá uma baixa dos índices da pandemia a tendência é crescer. Isso é crescer frente ao que estava, mas não é um crescimento que impacte na mudança do quadro, do cenário de dificuldades econômicas que infelizmente nós enfrentamos. A crise é persistente. Porque ele está focada em uma política de preços dos combustíveis no Brasil cuja responsabilidade é total da Petrobras e do Governo Bolsonaro. A dolarização dos preços da Petrobras só beneficia pequenos grupos de acionistas. Até que uma parte não é nem do Brasil. O resto é devastador. É o aumento do óleo diesel, impactando nos caminhões que são os grandes transportadores de grãos e dos produtos agrícolas dos alimentos, dos produtos industrializados, e com isso impactando diretamente a mesa do consumidor e toda a economia brasileira, inclusive a gasolina, o gás de cozinha. Então nós estamos com uma inflação que é pertinente. Ela não é possível de se debelar em um minuto. Ela vai se consolidando. Está virando um filme de terror para o povo brasileiro ir ao supermercado. Para aqueles que estão desempregados, para aqueles que não têm um emprego fixo, que vivem, digamos assim, de empreitada, de trabalho por empreitada, para aqueles que têm emprego e salário fixo, ver o seu salário diminuir seu poder de compra a cada mês que vai ao supermercado é algo desesperador. Então, se nós não enfrentarmos isso com uma determinação de mudança e com uma compreensão de que o Governo Federal tem toda responsabilidade sobre esse quadro seria, realmente, uma atitude avestruz, de esconder a cabeça embaixo da terra. Enterrar a cabeça embaixo da terra. E isso não é possível fazer.
Deputada, com a saída de Sergio Moro da disputa, a gente percebeu o crescimento de Bolsonaro e percebe-se que o presidente Lula tem se mantido na mesma faixa, com Bolsonaro se aproximando, mostrando que o Brasil está dividido em três: um terço que é Lula, um terço que é Bolsonaro, e mais um terço está dividido. Vai ser difícil essa campanha para o ex-presidente?
Vai ser difícil para todo mundo. Uma sociedade polarizada, claro que é difícil. Lula parte na frente, está claro que parte na frente. Lula cresceu muito no Sul e Sudeste, onde ele estava praticamente dizimado na eleição passada. E Bolsonaro com a máquina cresce um pouco no Nordeste. Ainda assim, eu estou muito confiante, porque a chegada do período de televisão vai ajudar muito o presidente Lula. A sua campanha se desenvolvendo em todo o país, e as pessoas cada dia mais tendo consciência do desastre que é esse governo do ponto de vista econômico, eu acho que nós teremos uma eleição tensionada, inclusive porque essa é a intenção de Bolsonaro, tensionar o processo eleitoral. Criar na sociedade um medo pela eleição, um medo de ameaça à democracia, então, veja que ele trabalha o tempo todo com a ideia de criar uma situação em que a população se sinta aterrorizada. De um lado o caos se estabeleça, do outro lado ele possa aterrorizar. Então, são declarações de que vai garantir a eleição com as armas… Eu acho que tudo isso… Não há campo, não há caminho internacional para que isso ocorra, e que o Brasil não vai admitir uma quebra do sistema democrático. Bolsonaro precisa parar, porque ele é a destruição do país. E agora essa vinda desse bilionário para ajudá-lo é a maior demonstração de qual o lado que ele representa. Ele não representa o povo brasileiro pobre. Pelo contrário. Ele representa isso aí: a extrema direita bilionária no mundo, que tenta comprar, inclusive, os meios de comunicação para continuar praticando as falsificações de fake news que eles fizeram e que continuam fazendo para amedrontar a sociedade.
Deputada, a senhora tem um desafio novo que é coordenar a bancada baiana na Câmara e no Senado. Como a senhora enxerga esse desafio e qual a maior demanda a partir de agora?
O desafio, você disse bem, é diferente de um momento normal de administração das diferenças no interior da bancada porque nós estamos no processo eleitoral, e que essa disputa que fica um pouco morna no processo de eleição tende a desabrochar com uma força de paixão. Então, eu espero que a minha possibilidade de dialogar com todas as forças da bancada possa se realizar. Eu estou determinada a coordenar no sentido de atender aos interesses de todos, e principalmente os interesses do nosso estado. Não é uma questão apenas… Porque todo o dinheiro que vem para a bancada vem para o estado da Bahia, isso é o óbvio. Mas não é essa questão. É preciso que venha para a Bahia e que esteja de acordo com os projetos de crescimento do estado, de fortalecimento dos programas mais importantes para a renda do povo do nosso estado, e que, do ponto de vista da bancada e do Congresso Nacional, atenda a uma regra básica, que é que todos devem ter direitos iguais. Isso infelizmente não passa pela bancada da Bahia, passa pelas regras do Congresso Nacional que estão deterioradas. Nós vivemos um regime injusto. Porque como ele não é justo, a regra está clara, então as emendas individuais. Todo mundo tem a mesma quantidade. São 16 milhões, metade para a saúde e o resto para o que você decidir. E as cifras que nós estamos vendo sendo distribuídas no Congresso Nacional não obedecem à regra nem da individualidade, nem das regras de emenda de bancada. Elas passam por uma outra referência que não está clara para a sociedade. Então nós não podemos concordar com ela. Mas essa é uma tarefa que nós teremos para resolver no próximo governo, após a eleição.