Estrutura conta a história das batalhas e dos heróis e heroínas da Independência
O número 26 do Largo da Lapinha, no Centro de Salvador, está de cara nova. O barracão responsável por guardar os carros do Caboclo e da Cabocla que desfilam no cortejo do 2 de julho foi transformado em um memorial em homenagem a data e inaugurado nesta segunda-feira (17). Nos dois primeiros meses as visitas serão agendadas e haverá prioridade para grupos estudantis. Depois desse prazo ficará aberto ao público comum.
O prédio não é tombado e nem está em área tombada, mas o novo projeto preservou a fachada e as estruturas internas. Antes, o Pavilhão 2 de julho era apenas um galpão, formado por quatro paredes e um teto. Agora, o local foi transformado em um museu interativo, com dois mezaninos que contam através de texto, áudios, vídeos e fotografia a história das batalhas e dos heróis da independência.
O coautor do projeto de arquitetura do imóvel, Nivaldo Andrade, contou que foram preservadas a fachada, o piso, as paredes e o teto do prédio. O piso estava desgastado e precisou ser refeito, os demais foram restaurados nos moldes e cores originais. A parede dos fundos foi derrubada para que o quintal fosse integrado ao restante do espaço.
“O primeiro desafio foi transformar uma construção muito simples em um equipamento cultural que pudesse receber grupos de estudantes e turistas. Colocamos toda a parte de apoio e de serviço, como elevador e escadas, nos fundos e internamente criamos uma passarela e dois mezaninos. Usamos estrutura metálica e vidro para manter a amplitude do ambiente”, explicou.
Os carros do Caboclo e da Cabocla receberam um local especial no centro do edifício, que teve as paredes cobertas por histórias do processo de libertação do povo brasileiro na Bahia. No teto, bandeiras douradas representam o sentimento de esperança e renovação da alvorada. O prefeito Bruno Reis (União Brasil) fez a inauguração oficial, percorreu o memorial e disse que o espaço é uma homenagem ao bicentenário da Independência.
“Esse lugar permite um resgate histórico, para o Brasil e para a Bahia, de um momento importante para essa nação, com a história da Independência contada desde as primeiras batalhas. Dessa forma podemos celebrar ainda mais essa data, que dá força para os baianos, nos inspira e dá coragem, podendo agora se perpetuar para gerações futuras”, afirmou.
O investimento foi de R$ 3,5 milhões. O objetivo é que soteropolitanos e turistas visitem o local, e que escolas usem a exposição, que será permanente, para passeios e aulas expositivas. O prédio pertence ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), desde 1917, e foi cedido ao Município. O presidente da instituição, Joaci Góes, destacou a importância da exposição.
“Muitos baianos não sabem o que significa a festa do 2 de julho, assim como no restante do país. Foi um equívoco nosso pensar que a festa por si mesmo levaria as pessoas a compreenderem o que estavam festejando. O significado maior desse museu é a possibilidade que o visitante terá de escutar parte dessa história, e conhecer essa memória”, afirmou.
Estudantes da Escola Municipal Vila Vicentina, na Liberdade, estiveram no memorial e aproveitaram as atividades interativas, como os orelhões instalados no andar térreo que ao serem retirados do gancho contam casos engraçados ocorridos na festa, e os totens digitais que são ativados com o toque. Além da restauração do Pavilhão e da inauguração do Memorial, houve também a requalificação do Largo da Lapinha.
Museu conta o lado histórico, religioso, cívico e carnavalesco da festa
A artista visual e curadora da exposição, Lanussi Pasquali, explicou que o memorial explora diversos aspectos do 2 de julho e também momentos importantes da festa, como o ano em que tentaram impedir o desfile, ou quando a Cabocla foi sequestrada e ainda a ocasião em que o penacho do Caboclo foi furtado.
“A gente parte sempre pensando quem foram as pessoas que mantiveram essa festa viva por 200 anos. Trabalhamos a trajetória histórica com os levantes, a devoção aos Caboclos e a incorporação a fé e a religião, a parte cívica que celebra essa conquista e o sentido carnavalesco. São três universos que acontecem ao mesmo tempo e de forma integrada”, contou.
Parte do acervo foi construído durante o desfile de 2023, com fotografias das pessoas que estavam no cortejo e captação dos sons emitidos pelas fanfarras, bandas marciais, sambas, cânticos e as vozes. Esse é o primeiro museu de Salvador dedicado às lutas do 2 de julho e ao processo de Independência do Brasil da Bahia. O presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro, comemorou.
“Hoje, temos uma casa do Caboclo que pode ser visitada o ano todo, além de ser um reforço para o comércio e o turismo na região da Lapinha. Quem vier, vai encontrar uma praça remodelada e uma igreja reformada. Esse é o primeiro museu dedicado a festa do 2 de julho, esperamos que surjam outros”, afirmou.
Serviço:
Nos dois primeiros meses a visitação será gratuita e por agendamento, através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult). Grupos estudantis terão prioridade. Depois desse prazo, o local será aberto ao público comum. Os ingressos vão custar R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). O funcionamento é de terça-feira a domingo, das 10h às 17h.
Confira a estrutura do espaço:
Térreo – É onde estão as carruagens com os caboclos, telefones públicos com histórias engraçadas da festa do 2 de julho contadas pelos foliões e um totem interativo com o percurso da festa e com um mapa digital mostrando pontos da história da celebração.
1º andar – É onde estão os mais de 100 retratos tirados durante o bicentenário, entrevistas feitas com pessoas envolvidas diretamente na festa e uma parede com frases retiradas dessas entrevistas que revelam o tom político atemporal do 2 de julho.
2º andar – É onde está o acervo mais robusto da expografia, onde as pessoas podem ler, estudar e interagir, através de uma linha do tempo. Historiadores contam a história do 2 de julho como se fosse uma conversa.
Novidades – As paredes do Pavilhão foram restauradas nos moldes da década de 1950, com os nomes de soldados, combatentes e batalhas que fizeram parte da Independência. Um patchwork costurado à mão vai incluir nomes que não foram gravados nas paredes antigamente, como Maria Quitéria, Joana Angélica, Maria Felipa e Urânia Vanério.
Primeiro museu dedicado a história da Independência. Crédito: Marina Silva/ CORREIO