Iniciativa lançada hoje, 28, em seminário da SEC, beneficiará jovens e educadores do sistema socioeducativo baiano
Jovens negros ou pardos representam 87% dos/as jovens atendidos/as pelo sistema socioeducativo baiano. O cenário aponta para a necessidade de debate sobre relações raciais com esse público e, também, com educadores que atuam nas unidades finalísticas. Esta é a proposta de uma ação conjunta sobre ‘Letramento Racial e Vivência Corporal’, que será implementada na Bahia pela Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) (ANPSINEP). A iniciativa contará com apoio da Fundac (Fundação da Criança e do Adolescente), órgão da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH), e do Baobá: Fundo para Equidade Racial.
O projeto, com duração prevista de 10 meses, foi lançado hoje (28), durante seminário realizado no auditório da Secretaria da Educação (SEC). Professores/as das redes estadual e municipal de ensino, instrutores e monitores sociais, beneficiários do projeto, participaram do ato pela manhã. Integrante da mesa de abertura, o secretário da SJDH, Felipe Freitas, ressaltou a importância da atuação conjunta entre a iniciativa privada e instituições governamentais em torno de uma “agenda necessária, em prol da igualdade de direitos e da garantia de condições que possam favorecer novos projetos de vida para os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa”.
“Toda unidade (Comunidade de Atendimento Socioeducativo – Case) tem que ser uma escola, independente das instituições de ensino que já existem em todas elas. Educação deve ser sempre a nossa premissa. E, para isso, precisamos agir como se esses espaços fossem fábricas de construção de novas oportunidades”, apontou. O secretário ainda defendeu que a pauta do racismo deve causar incômodo e desconforto em quem dialoga sobre o assunto. “Um desconforto”, segundo ele, “no sentido de instigar mudanças, novas atitudes e percepções sobre o tema, fazendo com que os adolescentes consigam se enxergar em posições de poder, em um mundo em que prevaleça a justiça e a igualdade. É exatamente isso que estamos buscando aqui”, disse.
Representando a SEC, o professor Manuel Calazans corroborou a fala de Felipe Freitas. Para ele, é preciso que haja uma cultura de reeducação e alfabetização racial, e que os/as professores/as precisam estar em constante aprendizado e atentos/as sobre essas questões. “Não existe algo mais cruel, mais racista e mais preconceituoso do que a não aprendizagem nas escolas públicas, sejam elas estaduais ou municipais. Para isso, o professor não pode deixar de estudar nunca. E, atrelada à educação formal, também deve existir arte e cultura nas instituições de ensino”, ponderou o docente.
Para a diretora-geral da Fundac, Regina Affonso, o projeto de Letramento Racial só vem a somar com os projetos já desenvolvidos no sistema socioeducativo, na promoção da educação, qualificação profissional, além do incentivo para auxiliar na construção de novos planos de vida para os adolescentes. Ela também agradeceu a ANPSINEP pela sensibilidade na elaboração de um projeto que atenderá em cheio às necessidades inerentes ao público atendido pela instituição.
Letramento Racial – O projeto vai promover processos formativos voltados para o letramento racial de educadores de unidades escolares do sistema socioeducativo e encontros de fortalecimento da identidade racial positiva, a partir da metodologia da vivência corporal, construção de metodologias de intervenção voltadas para a qualificação da escuta e do acolhimento de jovens negros e negras. De acordo com a Coordenadora Nacional da ANPSINEP, Maria Conceição Costa, o intuito é contribuir para a revisão dos currículos das unidades escolares, reforçando a temática racial como aspecto fundamental para a emancipação de jovens e para a redução das violências pela omissão.
As atividades serão iniciadas imediatamente após este primeiro Seminário. Será realizado um encontro por mês, com carga horária de 2h de formação e 2h de supervisão. Os encontros formativos contarão com a participação de professores/as do Colégio Roberto Santos e da Escola Carlos Formigli, coordenadora pedagógica, pedagogas, educadores de medidas, equipes técnicas e instrutores da Case Salvador.
Também participaram da abertura do Seminário de Lançamento, representando a Secretaria Municipal de Educação, o conselheiro Municipal de Educação, Carlos Eduardo de Santana; a presidente do Conselho Regional de Psicologia da Bahia, Catiana Nogueira; e o coordenador da Iniciativa Negra por uma Nova Política Sobre Drogas, Eduardo Ribeiro. A atividade contou ainda com apresentação cultural de educandos e com programação extensa pela tarde, com conferência e apresentação metodológica, contando com a explanação da diretora adjunta da Fundac, Fabiana Burity, e demais representantes da ANPSINEP.