As escolas municipais de Salvador terão ronda específica da Guarda Civil Municipal (GCM), botão do pânico e psicólogos para os professores. As medidas fazem parte do Programa Nossa Escola que tem três eixos de atuação: alfabetização, cuidado e formação. Foi anunciado também reforço no número de profissionais para auxiliar na alfabetização, criação de um centro de formação para educadores e contratação de 1,5 mil estagiários.
O programa foi apresentado em um evento no centro de convenções do Hotel Fiesta, no bairro do Itaigara, nesta segunda-feira (8). O prefeito Bruno Reis (União Brasil) disse que o programa tem como objetivos reduzir o déficit de aprendizado provocado pela pandemia, oferecer mais segurança nas escolas e ampliar a capacitação dos profissionais.
“São três eixos, e um deles tem foco no cuidado, na proteção das escolas, com a ronda escolar, videomonitoramento e botão do pânico, mas vamos mais além. É um programa para recomposição do aprendizado, atualização do programa Nossa Rede, com material específico para a Educação de Jovens e Adultos, com a contratação de agentes para atender crianças com algum tipo de deficiência, entre outras medidas”, disse.
Hoje, a Guarda Municipal desloca o efetivo para fazer as rondas nas escolas. Agora, com a entrega de dez novas viaturas, 40 servidores vão atuar especificamente nessa área. O botão do pânico será instalado inicialmente em 60 das 425 escolas do município, e terá ligação direta com a central de monitoramento da Guarda Municipal para que a comunicação seja mais ágil em caso de ocorrências.
O CORREIO perguntou ao secretário municipal de Educação, Thiago Dantas, se essas medidas foram tomadas por conta dos casos de violência registrados em escolas públicas de Salvador e do interior do estado, em março e abril. Em alguns episódios na rede estadual estudantes foram flagrados com armas brancas e soltando bombas dentro dos colégios, o que provocou pânico e deixou pessoas machucadas.
“O eixo da segurança, sim [surgiu desses casos]. Ele está dentro do Cuidar. Nós temos ações relacionadas como o videomonitoramento e a ronda escolar, que é uma patrulha específica da Guarda Municipal voltada para as escolas, mas essas questões específicas de apoio socioemocional dos professores já vinham sendo discutidas desde antes. A gente faria esse lançamento antes, mas adiamos por conta do momento”, afirmou.
Serão 40 psicólogos atuando nas gerências regionais do município, oferecendo suporte aos educadores. Eles estão sendo convocados através do último concurso em Regime Especial de Direito Administrativo (Reda), mas o prefeito disse que está estudando a abertura de novos concursos em outras áreas. Já o Centro de Formação tem 20 salas, com capacidade para 500 profissionais, e vai funcionar no Itaigara. O prédio é alugado.
O gestor anunciou também a atualização do material Nossa Rede, com ênfase na alfabetização na idade certa, e inovações do projeto Conectividade e Educação Digital. O investimento em todo o programa será de R$ 30 milhões.
Atenção redobrada
O auditório ficou lotado de professores e outros profissionais da educação. Eles aplaudiram quando as imagens do novo centro de formação foram exibidas no telão, comemoraram a decisão do município de contratar estagiários para auxiliar os mestres em sala de aula, e cobraram que questões sensíveis sejam tratadas com mais atenção pelo poder público. Eles frisaram que bullying, racismo, fobias e outros tipos de discriminações podem desencadear problemas graves.
O inspetor geral da Guarda Civil Municipal, Marcelo Silva, explicou que a instituição elaborou uma cartilha com esses assuntos e que o eixo Formação do programa prevê a realização de palestras nas escolas, com estudantes, professores e outros profissionais sobre esses assuntos. A corporação está discutindo com os gestores o cronograma, e as formações devem começar ainda no primeiro semestre.
“Tudo o que traz um ponto de cisão, de discussão, a gente precisa conversar. Junto com professores, agentes de portaria, as merendeiras, todos que estão no ambiente escolar precisam ser nossos olhos para caso haja uma mudança naquela atmosfera ele possa nos relatar, e a gente fazer uma abordagem conjunta e da melhor forma”, disse. Ele frisou que mudanças repentinas de comportamento são sinais que a criança emite e que é preciso redobrar a atenção.
O evento terminou com uma palestra da educadora Cybele Amado, titular da Diretoria de Formação do Ministério da Educação (MEC). A promotora de vendas Carine Silva, 36 anos, tem uma filha e dois sobrinhos que estudam na rede municipal, e fez uma avaliação do cenário.
“A pandemia fez um estrago. As crianças não aprenderam, ou pior, desaprenderam os conteúdos. Para quem estava se alfabetizando foi terrível. O isolamento e o medo de ser contaminado fizeram muita gente desenvolver problemas psicológicos, alunos e professores, e até a gente que é pai e mãe. E ainda tem o aumento da violência. São muitos os problemas e eles não podem ser ignorados. Espero que essas medidas ajudem”, disse.
Confira os três eixos do programa Nossa Escola:
- CUIDAR
- Contratação de até 40 psicólogos e construção de uma estratégia para garantir assistência emocional aos professores;
- Programa Agente da Educação: “Aluno Presente”;
- Formação em segurança das comunidades escolares: gestores, professores, coordenadores e demais profissionais;
- Contratação e Formação para os ADI. A rede será convidada a debater e construir um novo modelo que permita atender a demanda da Nossa Rede;
- Ronda Escolar Humanizada: uma equipe da GCM será dedicada à atividade escolar. Não haverá rotatividade. Os GCM serão preparados e integrados à comunidade escolar;
- Videomonitoramento ampliado. Serão disponibilizados botões de ativações de resposta a incidentes (implantação do botão de pânico);
- ALFABETIZAR
- Atualização do Nossa Rede: discussão e efetiva participação da rede na atualização do material pedagógico de referência, com ênfase na alfabetização na idade certa (até o 2º ano do fundamental);
- Distribuição de material específico para a EJA;
- Programa de Apoio à Aprendizado. Até 1500 estagiários para apoiar a recomposição de aprendizado;
- Conectividade e Educação Digital como estratégia complementar de aprendizado e letramento digital;
- FORMAR
- Novo Centro de Formação de Professores: formação continuada para professores, coordenadores pedagógicos, gestores e demais colaboradores da Educação. A unidade tem 20 salas com capacidade para mais de 500 educadores;