Orquestra do Maestro Pai Xangô tomou conta da musicalidade durante o festejo
As comemorações do bicentenário da Independência do Brasil na Bahia foram encerradas ontem (5) com a volta das figuras do Caboclo e da Cabocla ao Pavilhão da Lapinha, realizada pela Prefeitura de Salvador, através da Fundação Gregório de Mattos (FGM). Desde domingo, as imagens estavam sendo exibidas no Largo do Campo Grande. No festejo, a Orquestra do Maestro Pai Xangô tomou conta da musicalidade, enquanto a população aproveitou para fazer pedidos e orações aos caboclos, além de deixar oferendas.
A Volta da Cabocla faz o percurso ao contrário da vinda. Os carros simbólicos levam as figuras que saem do Largo do Campo Grande e seguem pelas ruas até o Pavilhão 2 de Julho, no Largo da Lapinha. A grande diferença é na velocidade em que são levadas, sendo mais rápido. Geroge Vladimir, organizador do evento, conta que leva ? do tempo da volta, chegando lá numa duração de 2h a 2h30.
“A figura do caboclo e da cabocla significa essa mistura do povo negro, povo indígena, que são os verdadeiros guerreiros na luta pela independência. Então essa volta é um momento de celebração do fechamento de um ciclo de comemoração aos festejos do 2 de Julho, então é o ápice da festa”, explica George Vladimir.
Antes das figuras saírem do Largo do Campo Grande, havia quem já estivesse fazendo seus pedidos e até mesmo deixando oferendas, como frutas, flores, comidas, perfumes, dentre outros. Esse é o caso de Edson Salomão, 56, que deixou charutos, alfazema e até bebida para o Caboclo e a Cabocla.
“Essa homenagem é para o Caboclo, mas também para a mãe, porque ela recebia esse caboclo, Sultão das Matas, e me apeguei muito a ele. Costumo fazer isso todos os anos, hoje eu tive essa força dos orixás e quero vir fazer essa homenagem. Espero que tenha recebido essa homenagem de coração, porque eu ofereci de coração”, contou o aposentado.
Quem esteve presente para fazer pedidos foi Iolanda Santos Moura, aposentada de 60 anos, que além de tirar fotos com as imagens, ainda pediu para os caboclos saúde para a irmã. “Minha irmã está com câncer no pulmão, aí eu pedi pra ela curar, como ela me cura quando estou doente. Eu tenho muita fé. O Caboclo e a Cabocla pra mim significam paz, amor, libertação, paz de espírito”, afirma.
Fotos, pedidos, orações e muitas oferendas foram deixadas nos carros simbólicos das figuras durante a tarde. Às 18h, a praça já estava lotada e todo o público foi agitado pelas batidas e animação da Orquestra do Maestro Reginaldo de Xangô, que participa da procissão há mais de 25 anos. Foram 45 músicos presentes para conduzir as figuras.
“Representar 200 anos de independência é representar 200 anos de vitória, porque além de tudo os caboclos são os nossos representantes populares nesse processo de independência. Eu costumo dizer que a ida é boa, mas a volta é muito melhor, porque na volta a gente não tem bandeira política, a gente não tem time de futebol. A gente só tem uma festa e os anfitriões, que são os caboclos. A gente vem, faz com muito amor e com muito afinco”, pontua Rita Barbosa, regente representante da Orquestra.
Junto com as figuras, uma obra também chamava atenção: o Caboclinho, como assim chamou Adilson Guedes, 57, artista plástico que fez a cabeça do Caboclo a partir de materiais reciclados para homenagear as figuras originais. Durante todo o percurso, ele levantou e balançou sua própria figura.
“Depois de tanto tempo dos Caboclos lá dentro, saíram nesse segundo ano depois da pandemia. A gente tem que saber que a volta não é só chorar no pé do caboclo, é fazer o pedido, é agradecer, é voltar com ele e botar no Pavilhão. E eu voto de uma forma diferente, homenageando com alegoria, com dança, com arte”, comemorou Adilson.
Em meio a música, dança e cantoria, as figuras seguiram chamando atenção de moradores locais e até mesmo quem estava em pontos de ônibus voltando do trabalho. O Batalhão Quebra-ferro, que puxou as carruagens pela rua desde às 18h40, se empenhou para levar mais rápido e com toda a animação condizente com o público. Para fechar com chave de ouro, às 20h, na Lapinha, o Grupo Ofá realizou um show com convidados das Nações Congo Angola para receber os Caboclos.
Mas essa não é uma despedida, porque ao contrário dos anos anteriores, as figuras não ficarão guardadas até o próximo ano. Fernando Guerreiro, presidente da FGM, anuncia a novidade da segunda quinzena do mês. “Quando a gente inaugurar o memorial que vai ser agora no final de julho o Caboclo vai ficar recebendo as ofertas o ano inteiro. Ele vai voltar agora e vai ser recuperado, porque sempre tem uma avaria ou outra, e até o final do mês a gente abre oficialmente a exposição do Memorial. O caboclo vai estar lá, inclusive com as cestas, e aí vai poder se visitar o caboclo o ano inteiro, chorar o pé do caboclo, fazer as orações, fazer tudo”, afirma Fernando.
Com a Volta da Cabocla, é encerrada as celebrações do bicentenário da independência, que trouxe não só história, mas também integração entre a população, muita cultura e religiosidade.
*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira