Em seu terceiro ano como presidente da Câmara de Salvador, o vereador Geraldo Júnior (MDB) diz que a Casa é hoje “protagonista dos destinos da cidade”. Para ele, a “pandemia foi o maior problema já enfrentado por um presidente” do Legislativo e que a “política não pode mais ser praticada em ilhas, isolada”. Ao ser questionado sobre a eleição do próximo ano, Geraldo Júnior diz que ainda é “muito cedo definir para onde o MDB vai caminhar em 2022“ e chegou a desafiar “qualquer pessoa a dizer que já há uma definição publica por parte do partido” sobre o apoio do próximo ano, se marcharão com ACM Neto, Jaques Wagner ou João Roma. Confira:
Presidente, você está no terceiro ano do seu mandato na Câmara. Que avaliação faz desse período?
A avaliação é muito positiva. A seu tempo, cada presidente deu sua contribuição para a cidade de Salvador. Mas nossa gestão, aos longos destes últimos três anos, desengavetou projetos que estavam paralisados, como, por exemplo, o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa, que foi regulamentado pelo prefeito Bruno Reis no último dia 19. E em nossa gestão foi realizada a regulamentação dos transportes por aplicativos, além da aprovação de inúmeros projetos importantes. Nos últimos três anos edificamos uma Casa harmônica, respeitando todas as opiniões. Temos respeito mútuo à oposição, grupo independente e governista. E a Câmara hoje é protagonista dos destinos da cidade. Esta Casa legislativa está maior do que era perante a população. Inclusive, o atual slogan da Casa é “o futuro da cidade passa por aqui”. Por isso, conclamo a nossa população a participar e se informar das atividades da Câmara. Temos canais de comunicação como a TV Cam (canal 12.3), a Rádio Cam (105.3 FM) e o site www.cms.ba.gov.br. Enfim, hoje temos um Legislativo plural. Já recebemos na Casa o ex-prefeito ACM Neto, o prefeito Bruno Reis, e de forma inédita, o governador Rui Costa. Também recepcionamos no Legislativo de Salvador o vice-presidente Hamilton Mourão, que recebeu o Título de cidadão Soteropolitano. Também é importante ressaltar o papel importante da Câmara de Salvador na pandemia, com a aprovação célere do auxílio emergencial para ambulantes, artistas e outros profissionais. Creio que a pandemia foi o maior problema já enfrentado por um presidente desta Casa. E num momento de impactos tão negativos na economia procuramos atuar em prol dos empreendedores e trabalhadores da nossa cidade. E ressaltar também que não fazemos nada sozinhos. Ainda nessa mesma esteira, meu agradecimento especial aos outros 42 vereadores que compõem a nossa Câmara.
Você tem uma grande capacidade de diálogo e articulação. Mas não deve ser fácil estar à frente de uma casa como a Câmara. Qual o maior desafio de gerir a Casa?
Agradeço pelo elogio no que tange à capacidade de articulação. Na Casa somos 43 vereadores que representam um universo plural chamado cidade do Salvador. Cada um com o seu pensamento, ideologias díspares e seus projetos. Na condição de presidente da Câmara de Salvador, nosso maior desafio foi trazer para o Legislativo desta cidade o princípio da isonomia, baseado no respeito de que todos os parlamentares têm seus direitos e sua voz dentro da Casa. Independente de votação nas urnas ou ideologia partidária, todos têm o mesmo peso. Ao longo desses quase três anos, não há sequer um vereador que não escutei acerca dos temas levantados por eles. O presidente da Câmara de Salvador é acessível aos seus pares. Minha missão é pregar o princípio da democracia. Portanto, escuto todos. Todos os projetos apresentados são levados para apreciação das comissões. Eu costumo dizer sempre que cuidar de gente é vocação. Sou um vereador, como todos os outros e trato a todos de forma igualitária porque fui escolhido por aclamação pelos meus pares para comandar o Parlamento soteropolitano.
Falta mais de um ano para terminar seu mandato e muito já se fala na sua sucessão. Debate muito antecipado? Que critérios serão usados para definir seu sucessor?
É preciso deixar claro que é um direito legítimo de cada vereador pleitear a Presidência da Casa. Mas ainda é muito cedo para esse debate. Ainda estamos por completar o 11º mês do nosso mandato nesta gestão 2021/2022. Obviamente, que sei que nos corredores já há articulações, reuniões e conversas. É importante que o próximo presidente dê continuidade às nossas ações exitosas e avance em algumas questões. Naturalmente, no próximo ano o tema sucessão da Presidência da Câmara de Salvador estará mais aquecido. Temos critérios para o processo de escolha do próximo candidato a presidente, como a lealdade, por exemplo. A Câmara, com certeza, terá como novo presidente o quadro que for melhor para o povo de Salvador.
O senhor já começou a se movimentar. Será candidato a deputado federal na próxima eleição?
A minha pré-candidatura a deputado federal está posta, mas sempre é possível sonhar com outra posição, eu penso grande, quem me conhece sabe. Poderemos também ter lugar numa chapa majoritária. Em qualquer uma das situações, podemos contribuir muito com o valoroso povo do nosso estado. Sendo eleito deputado federal, não seremos mais um em Brasília. Sobre nossos movimentos neste sentido, é notório que a inquietude sempre tomou conta do mim. Saio de casa todos os dias às seis da manhã e volto meia-noite. Estou nos quatro cantos da cidade e agora viajando também muito pela Bahia com o projeto Giro Pelo Interior. Busco conversar com o povo para saber como podemos melhorar Salvador e a Bahia, ouvindo os anseios da população. Estou muito impressionado com a receptividade e acolhimento que temos tido no interior, tanto dos políticos quanto do povo. Não obstante sua pergunta tenha sido sobre a eleição para o Congresso Nacional, preciso comentar um tema relativo ao Legislativo de Salvador. É necessário ressaltar que a Câmara da capital não tem mais uma dimensão estritamente municipal. Pois hoje já nos articulamos com os Poderes Públicos de outras cidades da Bahia em busca de soluções integradas para o nosso estado e algumas vezes até para o país. Um bom exemplo, foi quando ainda nesse ano fizemos um périplo em Brasília junto com o presidente da Câmara de Camaçari e conseguimos barrar a extinção do REIQ por pelo menos quatro anos. O Regime Especial da Indústria Química é um importante instrumento de desoneração fiscal para o setor petroquímico brasileiro. As estimativas são de que a sua suspensão iria impor uma retração da ordem de RS 2,2 bilhões ao setor. Portanto, garantimos empregos e renda ao setor petroquímico em nível nacional e garantimos a pujança econômica do Polo Petroquímico de Camaçari. A política não pode mais ser praticada em ilhas, isolada. Pregamos e executamos a nova política, fora da caixa.
Que panorama faz da eleição na Bahia no próximo ano?
Esta é uma pergunta ainda muito prematura. Mas um homem público precisa ter coragem para não se abster de comentar os questionamentos colocados. Temos, por enquanto, colocadas a pré-candidatura de ACM Neto ao Governo do Estado e no outro lado a pré-candidatura do grupo político que está no atual comando do Governo do Estado. Uma certeza é que não será um jogo fácil. Costumo dizer que time ganha jogo. Mas, quem tiver o melhor elenco é quem leva o campeonato. E, obviamente, torcida (eleitores) também. Enfim, devem ser levadas em conta outras pré-candidaturas e diversos fatores.
O MDB conversa com Neto, Wagner e Roma. Para onde o partido deve seguir?
Acho muito cedo definir para onde o MDB vai caminhar no pleito de 2022. Eu sou um homem de grupo e um quadro partidário. E estou na condição de presidente do partido em Salvador. As articulações passam, obviamente, pela Executiva Nacional. Nosso partido é grande e está umbilicalmente e historicamente ligado à reconstrução da democracia no nosso país. E mais do que nunca devemos reforçar essa conquista. Somos o MDB, em nível nacional, de Ulisses Guimarães e Tancredo Neves. E na Bahia o partido também teve referências nacionais históricas, como Chico Pinto e Pedral Sampaio. Portanto, no momento certo nosso partido saberá escolher o melhor projeto para o povo da Bahia.
Muitos falam que o partido vá marchar com Wagner. Caso isso aconteça, qual será o destino de Geraldinho?
Naturalmente, sempre antes de uma eleição há diversas especulações. O nosso presidente estadual Alex Futuca e a Executiva não mencionaram com quem o partido caminhará. E desafio qualquer pessoa a dizer que já há uma definição publica por parte do partido. E esta definição perpassa pela Executiva. Eu sou um homem de grupo, um soldado do partido. Mas ainda não há resposta a sua pergunta. E o nosso destino será sempre de trabalho pela aprovação de leis e por políticas públicas que beneficiem diretamente o povo, especialmente para aqueles que mais precisam. O nosso destino será sempre o de trabalhar pelo povo da Bahia. Temos hoje um mandato numa cidade de quase três milhões de habitantes. E seguiremos trabalhando por Salvador e pela Bahia. Nosso destino sempre será o de servir, em qualquer posição.
ACM Neto fala em não nacionalizar a disputa. Já o PT quer a todo custo se apegar na força do ex-presidente Lula. Qual será a influência do cenário nacional na disputa local?
É necessário registrar que eleições não se repetem. Os cenários dependem do momento. A última eleição nacional comprovou que o modelo antigo não funciona mais. ACM Neto tem a sua opinião sobre a disputa e o grupo político do governador Rui Costa tem outra. Faz parte do jogo político. Mas ainda falta bastante tempo para a eleição. Esta discussão depende de muitos fatores. Inclusive, dos quadros que serão postulantes à Presidência. Ter essa resposta me tiraria da posição de presidente da Câmara para ser um oráculo. Mas, repito, cada eleição é uma eleição. Vamos aguardar e observar o cenário.
João Roma será candidato ao governo para defender o legado de Bolsonaro?
Só quem pode responder essa pergunta é o meu amigo João Roma. Inclusive, registro sua atuação importante na gestão de ACM Neto e também como deputado federal. E, como ministro, é fato que ele tem trazido benefícios para a Bahia. Enfim, essa será uma decisão de João Roma e seu grupo político.
O favoritismo de Lula será confirmado na Bahia ou há espaço para uma terceira via, já que a rejeição a Bolsonaro é gigantesca?
Eu acho que deve ter espaço para terceira via, quarta via, quinta via. Quanto mais opções para o eleitor, melhor. Enriquece o processo e fortalece a democracia. Favoritismos e rejeições são mutáveis. A política é como uma nuvem. Cada hora ela está num lugar diferente.
Estamos caminhando para o primeiro ano do governo Bruno Reis. Qual o principal erro e acerto dele?
Numerar acertos do governo Bruno Reis é muito fácil. No momento mais acirrado da pandemia, por exemplo, ele fez um trabalho exemplar e continua realizando. Seu trabalho de combate à pandemia é excepcional. Inclusive, com embates com o Governo Federal na luta por vacinas para Salvador. Ressalto também a postura do prefeito Bruno Reis que se mostrou um estadista deixando as diferenças politicas de lado, vale lembrar o alinhamento na vacinação, realizado pelas Secretarias Municipal e Estadual de Saúde. O Legislativo tem uma excelente relação, harmoniosa e independente, com o Executivo local. Um grande exemplo disso foi o “SOS Salvador”, para minimizar os efeitos econômicos da pandemia para diversas categorias através de um auxílio emergencial. A gestão do Prefeito Bruno Reis segue num ritmo frenético de trabalho. Há obras por toda a cidade. Dando continuidade ao seu antecessor ACM Neto que foi por muitos anos eleito o melhor prefeito do Brasil. E, em nossa avaliação, Bruno tem sido um grande gestor. Mas é obvio que tem muito a ser feito, mas não posso classificar como erro. Assim como eu brincava dizendo que eu e ACM Neto nos comunicávamos pelo olhar, a nossa sintonia com Bruno Reis é algo que vem de longa data.
E o Réveillon e Carnaval? Você é a favor da realização das festas e em qual formato?
Quem me conhece sabe que gosto muito do Réveillon e que sou um carnavalesco. No que tange à realização dessas festas, o prefeito Bruno Reis buscará o formato mais adequado para o Réveillon. E junto com o governador Rui Costa haverá uma resposta acerca do carnaval 2022. Sou amigo dos promotores de festa e eventos de Salvador. E já os levei para audiência com o prefeito Bruno Reis sobre os protocolos para a volta dos eventos, que hoje são autorizados com a limitação do número de pessoas. Mas ainda estamos numa pandemia. Eu creio que o Carnaval acontecerá em 2022, em fevereiro ou em outra data. Importante também que a população faça a sua parte e complete a imunização. Ainda há muitas pessoas sem a imunização completa em Salvador e na Bahia. É importante também lembrar que havendo o Carnaval teremos uma enorme quantidade de pessoas do Brasil e do mundo em Salvador. E também é importante lembrar a gigantesca importância que o Carnaval de Salvador tem para a economia, com uma geração de renda bilionária e garantia de sustento para uma boa parcela da população. A ausência do Carnaval gera um grande prejuízo à economia local, mas temos que ter todos os critérios no que tange a cuidados.